
Foto por Kevin. Licenciado sob CC-BY 2.0.
Breve história sobre minha máquina de lavar
Quando eu era pequeno, lá na década de 90, lembro-me que na minha casa existia uma máquina de lavar da Enxuta, na verdade eu não queria falar sobre marcas aqui no blog, também nem sei se ela existe mais.
Há algum tempo observo que não só essa máquina, como outros eletrodomésticos que existiam na minha residência, possuíam uma durabilidade utilidade diferenciadas e não pude deixar de associar isso às mudanças que vêm ocorrendo com o comportamento e os relacionamentos humanos.
As máquinas antigas foram feitas pra durar o máximo possível
fonte da imagem: Site Criatives
Pois bem! No caso particular da antiga máquina de lavar da minha casa(de bem antes da década de 90), me lembro que toda vez que ela dava um defeito, chegava o cara que consertava a danada e dizia rapidamente qual era o problema para minha mãe:
Moça aqui vai ser o seguinte: a gente vai ter que ajeitar a rebimboca da parafuseta dela e isso vai custar tantos cruzeiros(não era caro), mas vai ficar boazinha, vou dar um grau mesmo.
Dito e feito! No mesmo dia, o rapaz consertava a bendita ou então levava a peça que deu defeito, consertava e trazia na mesma semana a máquina funcionando, tinindo, boazinha, do mesmo do jeito que ele disse que traria.
E assim se passava muito tempo até que quebrasse outra peça(o que era muito difícil) e o processo se repetisse. Se quebrasse novamente, era só consertar e pronto, pois a mesma peça podia ser reparada por anos que, depois disso, iria funcionar tranquilamente.
Essa era a filosofia com que eram fabricados os produtos de antigamente: durar o máximo possível para que fossem úteis até sua exaustão e o interessante é que o produto fosse aposentado ainda funcionando.
As máquinas novas foram feitas para ser trocadas quando dessem defeito
Muitos anos depois, aquela velha e incansável lavadora estava funcionando, mas a verdade é que chegaram ao mercado outras mais novas e mais sofisticadas, que lavavam em x velocidades e possuíam mais tecnologia.
Eram o suprassumo dos eletrodomésticos em forma de máquina, além do belíssimo design que deixava a antiga no chinelo. Resultado: a coitada e trabalhadora Enxuta foi trocada por outra mais nova.
A novidade é que essa máquina deu um problema em uma peça pouco tempo depois de uso e o cara que consertava a máquina deu o veredicto pra minha mãe:
Moça não vale nem a pena a senhora consertar essa máquina. Primeiro porque o conserto talvez não dure muito, pois essas peças não foram feitas pra durar como as da antiga e o preço do conserto será o mesmo de uma máquina nova. não compensa!
Resultado: tivemos que adquirir uma máquina zero, pois a última só foi feita pra durar apenas até o vencimento de sua garantia. Com quantos eletrodomésticos e outros tipos de produtos isso vem acontecendo? Tive problemas semelhantes recentemente com smartphones, televisões, computadores e outros equipamentos.
Relacionamentos modernos: quando a vida imita as novas máquinas
fonte da imagem: Site Criatives
Contei essa história para mostrar a vocês a relação entre essas lavadoras e os relacionamentos modernos. Hoje em dia a mesma coisa que acontece com as máquinas também está acontecendo com as relações, principalmente as amorosas.
O que importa hoje nos relacionamentos é o Carpe Diem, o viver o momento como se fosse o último, sermos felizes apenas até a exaustão do momento e não ter um companheiro para cultivar uma relação duradoura.
Nas fábricas a filosofia é a mesma: o que importa é ter um belíssimo design, muitas funções, sem que seja necessário que o futuro comprador demore com esse novo produto. Afinal elas precisam fabricar mais novidades. Logo, não é interessante que o produto seja viável para toda uma vida.
Aquela pomposa máquina de lavar do comercial , aquele popstar ricaço, aquela gostosona da academia que todo mundo deseja é que são ideais… vê alguma semelhança aí? cada vez mais a durabilidade das relações se torna mais curta, pois hoje em dia as pessoas se relacionam para satisfazer seus instintos, suas vaidades, não para construir algo a dois.
Quantas pessoas você conhece tentariam trocar de máquina no primeiro defeito? Será que você mesmo não age ou vem agindo assim? Hoje não existe mais tolerância para compreender os defeitos do outro e aceitá-lo do jeito que é. Mais fácil esperar que tudo venha pronto e pré-moldado.
Assim, ao primeiro defeito, logo se procura alguém NOVO pra suprir a lacuna.No entanto essas constantes trocas trazem consigo uma bronca: Você corrige um problema e traz outros que a antiga relação não tinha e isso se torna um círculo vicioso.
Por esse motivo, os relacionamentos têm se tornado tão descartáveis e os casamentos têm se rendido a essa onda de aproveitar o momento, a esse jeito prático, porém nada eficiente, de construir relações. E você, leitor, prefere tentar consertar a máquina antiga ou trocar logo por uma nova pra não se aperrear?
Falei tudo isso na minha estreia aqui no blog para fazer você refletir um pouco sobre como muitos relacionamentos modernos estão descartáveis e vazios e gostaria que esse espaço virtual representasse para sua vida o mesmo que sua máquina de lavar das antigas, construindo com você uma relação saudável, útil e duradoura. Bem-vindo!
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Gostei muito do seu texto, eu sempre insisto em tentar consertar do que trocar por uma nova coisa em qualquer relação
Valeu Marco, que bom que você gostou do texto, jogamos no mesmo time!
Lendo o seu texto, percebi o quanto ele traduz exatamente a realidade, ou seja: o ser humano, influenciado pelo avanço da tecnologia, está agindo como se fosse uma máquina nova, pois hoje, nos tempos modernos, os relacionamentos na sua maioria não são duradouros e não têm a firmeza e a consistência dos de outrora, que se comparavam às antigas máquinas “Enxuta”, que algumas vezes quebravam, mas com um certo carinho e determinação dos que a consertavam, logo voltavam à normalidade. Assim, prefiro as máquinas antigas, por serem mais perfeitas, como também deveriam ser os sentimentos de todos os seres humanos.
Vó, acho que seu comentário veio na hora certa, suas experiências de vida e sua maturidade trazem um comentário que acrescentou muito a quem leu o texto, uma vez que não vou conseguir reproduzir nem tudo que refleti sobre o tema dentro dos 4 parágrafos, obrigado pela complementação e pelo comentário, beijo grande pra ti
li e refleti bastante meu velho! muito bom!
Fala Weily, que bom que o post serviu pra uma reflexão, o objetivo foi esse mesmo, valeu grande!
Excelente texto Rafa! Que saudades da minha antiga lavadora.
Tia, que bom que gostou, muito obrigado por aparecer aqui e comentar também, pode deixar que vem mais por aí viu, até mais!